Dinho Vasconcelos

"Con tu puedo y con mi quiero / Vamos juntos compañero" Mário Benedetti.

domingo, abril 03, 2011

Corrida para lugar nenhum - Race to nowhere


Artigo de Heloísa Villela a respeito da sobrecarga de tarefas e expectativas em cima das crianças estadunidenses.

No Brasil é o contrário...

http://www.viomundo.com.br/voce-escreve/heloisa-villela-corrida-para-lugar-nenhum.html

Trailler do filme:

http://www.youtube.com/watch?v=IPj9HNq-VmM

quarta-feira, dezembro 01, 2010

Posso discordar da tua opinião, mas não de você

Existe um problema cultural a ser superado, e que precisamos destrinchar a todo custo, que é a dificuldade de se estabelecer uma discussão sem que os posicionamentos esbarrem numa questão pessoal.

No ápice da discordância está a intolerância e o desprezo pelas posições divergentes. É muito comum levar para o lado pessoal uma discussão sobre qualquer assunto que seja.

Ao entrarmos em contato com um certo ponto de vista de alguém sobre determinado assunto, não conseguimos desvincular essa opinião da pessoa em si, e aí já vamos encaixotando, classificando e etiquetando nossos interlocutores sem levar em conta a completude do outro.

Para mim esse é um problema a ser superado. Dificilmente as pessoas conseguem levar adiante uma discussão onde reina o dissenso, pq levam para o lado pessoal. Nem sequer estamos engatinhando na solução desse problema.

quinta-feira, outubro 14, 2010

Terra deu, Terra come


Esse é um dos melhores documentários desde "À margem da imagem", de Evaldo Mocazel, e "Prisioneiro da Grade de Ferro", de Paulo Sacramento. Estamos falando do filme documentário Terra deu, Terra come de Rodrigo Siqueira.

Uma imersão no sertão roseano, ou melhor, no sertão que invadiu o Rosa, na figura do mineiro Pedro, último representante dos cantos fúnebres em vissungo, bruxo, feiticeiro e preto velho, contador de estórias...

Pra quem é bom entendedor, meia palavra engana.

Olha a ligação aí: http://terradeuterracome.com.br/

Isso é Leminski

Por falar em tortura...

Há muitos modos de se torturar uma criança.

Pode-se, por exemplo, fazer uma fogueira com todos os seus brinquedos, e obrigá-la a assistir a cena. Esse era o método favorito entre os mongóis, que entendiam de tortura infantil como poucos.

Um outro modo muito eficiente também é chegar, de repente, e dizer para a criança: "Tua mãe morreu". Salvo casos raros, como o do imperador Nero, essa técnica dá resultados lancinantes. Os russos preferem métodos mais sutis. Para torturar uma criança, eles enchem um quarto escuro com as obras completas de Marx, Engels, Lênin e Stalin e deixam a criança lá dentro por 24 horas. Os americanos, mais pragmáticos, preferem levar a criança até um parque de diversões e dizer: "Titio vai comprar pipoca". E nunca mais aparecer. Soube-se de casos em que pais ou responsáveis deixaram seus filhos ouvindo Frank Zappa, a todo volume, por horas a fio, tortura preferida pelos pais contraculturais dos anos 60.

Pais imaginativos gostam de torturar seus filhos contando-lhes histórias em que lobos tentam entrar na casa dos porquinhos, sendo que a criança é um dos porquinhos. Ou histórias onde uma bruxa malvada prende Branca de Neve numa jaula para que ela (a Branca, não a criança) engorde e fique no ponto, para ser assada no churrasco de domingo. Essa tortura ficcional é muito eficaz, porque vai repercutir na vida onírica dos petizes, produzindo, a médio prazo, sonhos angustiantes e pesadelos insuportáveis, dos quais a criança, invariavelmente, acorda gritando - "Mamãe"! É a hora perfeita para dizer: "Volte a dormir, querida; mamãe, o lobisomem comeu". (...)

Mas, de todos os métodos para torturar crianças, nenhum se compara ao método chamado "escola". A escola deve ter sido inventada por um verdadeiro discípulo do marquês de Sade. Basta dizer, para vocês fazerem uma ideia, que, nestes hediondos calabouços, as crianças são obrigadas a memorizar que dois mais dois "é quatro", que "pi" é um número sem fim, que um ao quadrado é um e que todo número multiplicado por zero - mesmo que seja um bilhão -, é zero. E não pára aí.

Uma das torturas mais requintadas usadas nessas tais "escolas" é a chamada análise sintática, nome inocente para disfarçar um dos tormentos mais sofisticados que a doentia mente humana foi capaz de inventar.

Basta dizer que na tal "análise sintática", diante de uma frase, uma criança tem que adivinhar quem é o sujeito, quem é o predicado, quem é o objeto, não necessariamente nessa ordem, é claro. Adivinhar é uma brincadeira divertida. Mas não no caso da "análise sintática". Se você adivinhar errado, reprova, e vai ter que fazer, de novo, aquele ano inteirinho, tentando adivinhar quem é o sujeito, quem é o objeto, quem é o predicado. Depois de reprovar uma, duas, três, quatro vezes, a criança desiste e prefere ser trombadinha, surfista ou cabo eleitoral de Jânio Quadros, qualquer coisa, menos sujeito, predicado ou objeto.

Peguem o tal sujeito inexistente, por exemplo, o sujeito das orações que expressam fenômenos atmosféricos. Chove, quem chove? Ninguém chove. Mas a criança diz: "A chuva chove". Pronto, reprovada. Ninguém chove. Venta. Quem venta? O vento? Errado. Ninguém venta. O vento se venta sozinho.

Que dizer do tal "sujeito oculto"? Claro que o sujeito oculto é sempre o principal suspeito do crime de haver frases no mundo. A não ser assim, por que se ocultaria? Sujeito oculto. "O assassino se escondeu atrás da parede de tijolos", "O espião da KGB usa óculos escuros", "Jack, o estripador, era filho da rainha Vitória", "Mengele está vivo e bem no Paraguai", esses são casos verídicos de sujeitos ocultos. Mas as crianças levam anos para encontrá-los. E, quando os encontram, já estão com cabelos brancos, como Sherlock Holmes.

A invenção da escola, como vocês estão vendo, torna obsoletos todos os antigos métodos de torturar crianças.

Com mais escolas, as crianças sofrerão muito mais, os adultos se divertirão mais e todos teremos, enfim, "aquele Brasil com que todos sonhamos".

(Paulo Leminski, Folha de S.Paulo, 18/09/85)

quarta-feira, junho 23, 2010

Arte engajada com engajamento Artístico


Em cada esquina, se lançarmos um olhar mais aprofundado na pele da urbe, vamos perceber os sinais da resistência. Numa dessas esquinas estava Eduardo Marinho, autor da arte acima postada.

Trata-se de arte engajada com engajamento artístico, forma e conteúdo abolindo a falsa dicotomia. Liberdade artística produzindo arte libertária. Vale a pena conferir seu blog.

terça-feira, maio 18, 2010

Marcha Nativa dos Índios Quiriris


Olá pessoal!


É com muito prazer que nós, índios Quiriris, convidamos vocês para mais uma Marcha Nativa dos Índios Quiriris, ritual indígena com música, performances, exibições de trechos de filmes e muita poesia. A comida típica a ser servida será a tapioca, alimento básico dos índios brasileiros. Tragam suas contribuições artísticas, sejam trechos de textos, músicas, aquela cena de filme que você quer compartilhar, performances, poemas e afins. Pedimos também a colaboração líquida de cada pessoa, uma vez que a nossa produção de cauim (bebida alcoólica tradicional dos povos indígenas, à base de mandioca) nunca dá conta do consumo (os índios Quiriris são exímios bebedores de cauim).


A Marcha Nativa dos Índios Quiriris vai acontecer nesta lua crescente de 22/05/2010 (sábado), na nossa maloca1, situada na Taba Indiana2, Rio Silencioso 712 3, após o pôr do sol4.


1: Conjunto de habitações indígenas.

2: Vila Indiana

3: Rua Iquiririm 712

4: 19h


Contamos com a presença de tod@s vocês!


Auê! (saudação tupi = salve!)


Ps: Pode trazer @s amig@s de vocês, mas pedimos a confirmação de quem vai para podermos calcular a quantidade de tapioca. Haverá variedade de recheios.


Contatos:


Dinho (Genival): 7166-1154 - dinhovasconcelos@yahoo.com.br

Jura: 7468-8290 - didachamusca@yahoo.com.br
Maloca: 3805-8582

terça-feira, junho 02, 2009

Poème enlevé d'une leçon de français

Poème enlevé d'une leçon de français

L'artiste crée des formes diverses
matière
informe
multiforme

(se) conformer, transformer, déformer
Les transformations
uniformité, pas de.
Non-conformiste.

Qu'est-ce que c'est que l'artiste?
un parachutiste
sans parachute
le parapluie dans la poche.

Estridente

Estridente

Tudo parecia calmo
e tranquilo.
O poeta, atento
lia em francês.
Um ligeiro vento gélido
se acercou
um calafrio
o fez bater os dentes
sonoro ¡ clac !

Todo o corpo
se eriçou
e todo corpo era só boca

os olhos desfocaram
e deram voltas
lentamente
a língua
lambe o dente
cratera
cavidade
no fundo escuro da boca

O buraco
nem sempre cheio
agora só caco
cacaréu

Cuspiu
o podre pedaço de dente
e concluiu que,
esteticamente,
claquer les dents
é mais poético
que bater os dentes

E sorriu.

sexta-feira, maio 15, 2009

O enigma da memória

O enigma da memória

Como saber se o que vemos e pensamos é real ou imaginário? Fala-se muito de memória involuntária. Algo que, sem a nossa intenção, nos remete a uma lembrança. Pode ser qualquer coisa: desde uma perninha de barata até o famoso biscoito mergulhado no chá. Possível. Mas e a memória daquilo que não foi vivido?

Tem um céu de estanho despencando em lágrimas do lado de fora do meu quarto. Vejo através da janela. Sinto uma melancolia tão gostosa que os meus lábios chegam a se esticar, num leve sorriso mavioso. E então me lembro de coisas que eu nunca vivi: lembro de meu escritório de trabalho, onde eu escrevia os meus romances. Lembro dos móveis entalhados em madeira nobre, da pena e do tinteiro, do aconchego da sala ampla na casa de campo. Sou arrebatado por essa lembrança. No instante seguinte, tiro os olhos da janela e sou sugado dessa memória. De volta ao imediato, me vejo rodeado pelos móveis pré fabricados em madeira compensada, empunhando a esferográfica que já falha a três dias, dentro de um cômodo minúsculo numa quitinete do centro da cidade.

Afinal, de onde veio essa memória?